Cineclube CDCC – Programação de Junho

Nos anos 1930, o inglês Alfred Hitchcock alcançou projeção internacional por seus filmes de suspense, e logo se mudou para Hollywood, onde fez o restante de seus filmes e todas as suas obras clássicas, sendo A Sombra de uma Dúvida considerada a primeira delas.

A trama se passa na pequena cidade de Santa Rosa, na Califórnia, onde vivem os Newton, uma típica família daquela época, cujo núcleo é composto por Emma, uma mãe rígida mas carinhosa, Joseph, um pai um tanto alheio, Ann e Rogers, os filhos prodígios mais novos, e a protagonista, a adolescente Charlie. Charlie está entediada com sua rotina familiar, até que descobre que seu xará, tio Charlie, irmão de sua mãe, irá passar um tempo visitando-os. O tio é um tipo carregado de elegância e sofisticação, atraindo a atenção do resto da cidade e a admiração cega da sobrinha. No entanto, as coisas começam a mudar quando uma dupla de detetives aparece para investigar o tio Charlie, que passa a agir de maneira estranha, como por exemplo se recusando a tirar fotografias. A sobrinha fica logo desconfiada e acaba descobrindo o passado sombrio do seu querido tio.

Em A Sombra de uma Dúvida, fica claro por que Hitchcock, o Mestre do Suspense, recebeu essa alcunha. Desde o início do longa fica evidente que há algo de muito errado com o tio Charlie, só não se sabe o quê. O espectador irá, então, junto com a protagonista, aos poucos descobrir o mistério que a cerca. Há certos truques do diretor que chamam a atenção, como, por exemplo, quando o tio Charlie chega de trem a Santa Rosa, a locomotiva estende sombras e fumaça exagerada sobre a estação. Esses detalhes são essenciais ao filme e a percepção deles torna a experiência de suspense que sentimos ainda maior, e faz dele um ótimo marco inicial para o ciclo de obras-primas que viriam a seguir.

Felipe Augusto Hencklain

Casada com o famoso tenista Tony Wendice, que está sempre viajando, Margot se relaciona com o escritor Mark, amigo de seu marido. Frequentemente Mark envia cartas românticas para ela, queimando-as logo depois de ler, exceto uma que mantém sempre consigo. Durante uma viagem, Margot tem sua bolsa roubada e ao recuperá-la, percebe que a carta de Mark sumiu. Dias depois, recebe um bilhete anônimo pedindo dinheiro para que seu caso com o escritor não seja revelado. Embora tenha pago o que foi solicitado, Margot nunca recupera a carta roubada. O que ela não desconfia é que seu marido já sabe de tudo e parece ter o plano perfeito para matá-la, saciando sua sede de vingança. Para ajudá-lo a ter um álibi e ficar com a herança, Tony chantageia um antigo amigo, Charles Alexander. Infelizmente o tiro saiu pela culatra e Tony precisa de um novo plano rapidamente.

Disque M para Matar é baseado em um espetáculo de sucesso na Broadway e foi produzido num período em que Hitchcock estava pouco inspirado e com ausência de ideias. Ironicamente, o diretor conseguiu fazer um filme elegante, mantendo o aspecto teatral, econômico e com muito suspense, sendo hoje considerado uma de suas principais obras-primas. Embora possua poucas cenas de ação foi um dos primeiros filmes a inserir a tecnologia 3D, usada de modo diferenciado, já que o diretor coloca os objetos do cenário em primeiro plano. Uma história envolvente e de grandes reviravoltas do início ao fim.

Mariana Castro de Souza

Margaret Edgar, apelidada de Marnie é uma cleptomaníaca, ou seja, possui um prazer doentio em roubar. Usando sua boa aparência e comportamento austero, ela consegue facilmente bons empregos em escritórios importantes sem precisar de nenhuma referência. Conquistando a confiança de seus empregadores, ela logo rouba a companhia, mudando de identidade, de aparência e parte para outra empreitada. Logo após um roubo bem-sucedido, Marnie consegue um emprego de datilógrafa na empresa de Mark Rutland. Mark é atraído por Marnie e tenta se aproximar dela, descobrindo nela comportamentos incomuns, como sua aversão por tempestades e pela cor vermelha e, além disso, uma profunda frigidez sexual. Depois de algum tempo, Marnie mais uma vez se rende ao seu impulso, rouba a empresa de Mark e foge. O que ela não sabia é que Mark era cliente da sua vítima anterior.

Em seu lançamento, Marnie, Confissões de uma Ladra foi alardeado como um “mistério e suspense sexual”. Isso, é claro provocou certo burburinho, pois Hitchcock sempre foi conhecido por evitar tais assuntos. Criado por uma rígida família católica e educado por jesuítas, Alfred manteve esses valores firmes durante sua incursão pelo cinema. Normalmente as mulheres de seus filmes são inibidas, alheias aos temas mais eróticos. No caso de Marnie, o que aconteceu foi uma propaganda enganosa. O filme não é nada sexual. Pelo contrário, ele trata das consequências trazidas a uma mulher adulta, entre elas a frigidez, por um abuso sofrido na infância.

Felipe Augusto Hencklain

Durante a Guerra Fria, os EUA recebem o desertor russo Boris Kusenov e sua família, que relata a existência de um acordo militar com envio constante de mísseis russos para Cuba. Kusenov indica os cubanos Rico Parra e seu secretário Luis Uribe como guardiões do acordo e responsáveis pelo recebimento dos mísseis e alerta o governo americano quanto à antipatia de Parra para com os americanos. De forma inteligente, os EUA solicitam a ajuda do agente francês André Devereaux, que em conjunto com o agente Philippe Dubois, se aproximam dos cubanos. Dubois fica encarregado de conseguir cópias do acordo firmado entre os países, subornando o secretário de Parra, enquanto Devereaux visita a ilha cubana para buscar informações sobre a presença russa. Para sua surpresa, o francês descobre a operação russa Topázio, que conta com a colaboração de funcionários franceses. Em meio à confusão política, Devereaux tem sua vida conjugal estremecida. Sua esposa Nicole desconfia que ele tenha um caso com a linda viúva e líder cubana Juanita de Cordoba.

Baseado no romance de Leon Uris, lançado em 1967, Topázio está entre os últimos filmes dirigidos por Hitchcock. Sua primeira versão foi odiada pelos espectadores por ser longo demais e, após diversos cortes, o filme ganhou outras duas versões. Outro ponto negativo apontado pelos americanos foi o estilo europeu e a falta de astros do cinema, substituídos por diversos atores estrangeiros, levando ao fracasso nas bilheterias.

Apesar das críticas, mais uma vez Hitchcock inovou ao criar uma trama complexa, misturando romance e política e evitando transmitir a imagem de herói à personagens, focando na espionagem profissional.

Mariana Castro de Souza